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O TOCOÍSMO E OS MOVIMENTOS DE LIBERTAÇÃO E A QUESTÃO DA COOPERAÇÃO COLONIAL (1960-1975) I PARTE

Um dos tópicos mais obscuros na historiografia de Simão Toco e do Tocoísmo é a sua relação com o nacionalismo político, em particular com o nacionalismo revolucionário. O objetivo desta análise pretende compreender os motivos que levaram à marginalização do estudo do Nacionalismo Religioso Angolano pelos primeiros investigadores que se dedicaram a este aspecto.

Neste estudo merecem destaque o Tocoísmo, o Nacionalismo Angolano e as relações que vieram a estabelecer-se com os Movimentos de Libertação de Angola e Administração Colonial (1960-1975). Foram interpretados os acontecimentos de Março de 1961, a participação de Simão Toco na resolução da crise que havia-se instalado naquela região e terminou-se a abordagem no ano de 1974, data que marca o fim da experiência intra-imperial de Simão Toco.

Sobre a questão do Nacionalismo Angolano, Simão Toco e os tocoístas tiveram uma tentativa de aproximação com os três movimentos de libertação e da luta contra o colonialismo. Porém, esta ideia não consistiu em usar os meios definidos pelos líderes daqueles movimentos emancipalistas em 1961, mas sim, para unificação dos mesmos e a criação de uma frente comum de luta contra o colonialismo de forma pacífica, com a finalidade de proclamar a independência num acordo comum entre os três movimentos.

A organização do processo emancipalista esteve presente em Luanda e em Lisboa, mas os primórdios, e quiçá o primeiro baluarte da expressão da luta contra as autoridades coloniais portuguesas, foi o Kongo. Este território esteve na vanguarda de algumas figuras dinamizadoras dos movimentos de libertação da UPA (União das Populações de Angola); FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola); MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola); UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola); NGWIZANI A KONGO ou NGWIZAKO (Associação dos Congoleses de Expressão Portuguesa), NTO-BAKO (Associação dos Bakongu de Angola) e outros que serão referidos mais adiante.

1. Kongo: Alfobre do Nacionalismo Religioso e Político Angolano

Os estudos sobre o Nacionalismo Angolano enfatizaram a sua dimensão política e a sua tipologia começou por ser definida por Thomas Okuma, ex-missionário em Angola, que propôs a existência de duas correntes nacionalistas distintas: uma europeia e outra africana, termos usados como sinónimo de “branco” e de autóctone. O autor identifica vários estudos levados a cabo sobre o Nacionalismo Angolano, mais precisamente por Pinto de Andrade, como um protesto político dos “negros” e mestiços e ignorou o nacionalismo dos “brancos” de Angola (PIMENTA, 2008, p. 30).

Nos estudos desenvolvidos por Okuma destacou-se o nacionalismo revolucionário dos “negros” e mestiços, encabeçados pelos principais movimentos de libertação de cariz armado, como a FNLA, MPLA e UNITA, dando a ideia de existir um nacionalismo revolucionário tripartido, com base nas populações de cada região linguística de Angola. Por seu turno, Pimenta (2008) realçou mais o nacionalismo dos “brancos”, sobretudo, dos movimentos da FUA (Frente Unida de Angola) e da agenda dos “brancos” de Angola no processo de descolonização (PIMENTA, 2008, p. 35).

Apoiando-se na obra de Mário Souza Clington, o autor acima indicado analisou as relações entre o nacionalismo negro e o movimento sociopolítico dos brancos liberais de Angola, equacionou a existência de um “nacionalismo euro-africano, apoiado por alguns setores da minoria branca de Angola, mas que era incapaz de se impor no quadro político da luta nacionalista, que era dominada pelos movimentos nacionalistas de maioria negra e mestiça (PIMENTA, 2008, p. 36).

Fora dos estudos desenvolvidos por esses investigadores, interessa refletir sobre o Nacionalismo Religioso, cuja abordagem far-se-á de forma seletiva. Quanto à problemática da formação do Nacionalismo Religioso e a Identidade Nacional no contexto Angolano, é, certamente, dos temas menos estudados, talvez por razões que se prendem com a pouca atração pelo tema entre os investigadores das ciências sociais.

O historiador britânico Mann (1994) distingue duas fases proto-nacionais, a religiosa e a comercial. Para este artigo, interessa a primeira que implicou a difusão da leitura e da escrita das línguas vernáculas levada a cabo na Reforma e na Contrarreforma. Este processo, ao promover a identificação de línguas vernáculas com distintos Estados e regiões numa época de guerra religiosa, poderia mesmo gerar sentimentos proto-nacionais entre as classes populares, mas só algumas vezes coincidiram com as fronteiras de Estado (MANN, 1994, p. 2).

Fernando Hélder Macaia * * Doutor em História Contemporânea – Universidade de Évora – Portugal

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