Wednesday Dezembro 4, 2024
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O EMBAIXADOR AGOSTINHO VAN-DÚNEM, DISSE: “VISITA DE JOE BIDEN REFLECTE A CRESCENTE IMPORTÂNCIA DE ANGOLA NO CENÁRIO INTERNACIONAL”

Por ocasião da visita histórica do Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, a Angola, o JA entrevistou o embaixador Agostinho Van-Dúnem. O diplomata destacou o impacto desta iniciativa nas relações bilaterais, abordando temas como investimentos estratégicos, o Corredor do Lobito, segurança regional e a relevância de Angola como parceiro estratégico dos EUA

O Presidente Joe Biden visita Angola nos próximos dias. É a primeira vez que um Presidente americano visita o país. Qual é a expectativa?

A visita do Presidente Joe Biden é histórica e reflecte a crescente importância de Angola no cenário internacional. Esperamos que esta visita fortaleça ainda mais as relações bilaterais, trazendo uma nova era de cooperação económica, política e estratégica. Além disso, acreditamos que a visita vai criar oportunidades de investimento em sectores-chave, que promovem o desenvolvimento sustentável e o crescimento econômico de Angola.

Podemos considerar uma vitória da diplomacia angolana?

Certamente. Esta visita é um marco na nossa diplomacia, resultado de anos de trabalho para consolidar Angola como um parceiro estratégico no continente africano e no mundo. A presença de um Presidente americano em Angola demonstra o reconhecimento dos esforços diplomáticos de Angola para se posicionar como um actor relevante na promoção da paz, segurança e desenvolvimento econômico na região.

O que está previsto em termos de acordos a serem assinados?

Durante a visita, esperamos abordar a cooperação em várias áreas, incluindo Infra-estruturas, Energia, Comércio, Educação e saúde. Um dos principais focos será o Corredor do Lobito, que representa uma oportunidade única para transformar Angola num centro logístico e comercial. Estas conversações irão consolidar as bases para um crescimento económico sustentável e para a criação de empregos.

Esta visita pode abrir novas oportunidades para Angola?

Sim, esta visita pode abrir portas para novas parcerias e investimentos, especialmente no sector energético e de infra-estruturas. Além disso, acreditamos que a presença do Presidente Biden trará mais visibilidade internacional ao potencial de Angola, impulsionando o nosso crescimento e integração em mercados globais.

A) com esta visita Angola pode voltar a ter os dólares americanos?

Este é um tema importante nas nossas negociações, e estamos optimistas de que essa visita trará avanços nesse sentido. A estabilidade da moeda é essencial para o desenvolvimento económico, e estamos a trabalhar em conjunto com os EUA para garantir um ambiente favorável ao crescimento económico. A confiança no nosso sistema financeiro também depende muito do trabalho de casa que estamos a fazer.

Que importância tem para a Região dos Grandes Lagos a visita do estadista norte-americano a Angola?

Tem um impacto directo na estabilidade e segurança da Região dos Grandes Lagos. Angola tem desempenhado um papel central nos esforços de mediação e promoção da paz nesta região, e a cooperação com os EUA reforçará as iniciativas de Angola na resolução de conflitos e no desenvolvimento sustentável da região. O Presidente João Lourenço tem investido o seu conhecimento à nossa diplomacia para resolver um dos mais recorrentes conflitos em África.

Angola, com esta visita, assume uma relevância no cenário diplomático africano. Já se pode considerar o nosso país como um parceiro estratégico dos EUA em África?

Sim, Angola já é considerado um parceiro estratégico dos EUA em África. Esta visita apenas reforça essa parceria, consolidando Angola como um dos principais interlocutores africanos com os EUA. O nosso país tem desempenhado um papel relevante em questões como segurança regional, energia, e desenvolvimento económico, sendo um ponto-chave para a estratégia americana em África.

A cooperação entre os dois países tem um peso muito grande no segmento político e diplomático. Nos últimos tempos, os EUA estão a apostar forte no Corredor do Lobito. Como é que encara estes investimentos?

O Corredor do Lobito é uma oportunidade transformadora, não só para Angola, mas também para toda a região. A aposta dos EUA neste projeto demonstra o reconhecimento do seu potencial para impulsionar o Comércio Regional e a ligação entre os países. Este investimento criará uma rota comercial eficiente, capaz de atrair mais negócios e impulsionar o desenvolvimento económico de Angola e dos seus vizinhos.

Que outra área elegeria para o relançamento da cooperação entre os dois países?

Além do Corredor do Lobito e da Energia, vejo grande potencial na cooperação nas áreas da Educação, Saúde e Tecnologia. Angola tem uma população jovem que pode beneficiar de programas de intercâmbio e capacitação com universidades americanas, e o sector da saúde também poderia beneficiar de parcerias, especialmente no combate das doenças endêmicas e na modernização do sistema de saúde.

Que avaliação faz da cooperação Angola-Estados Unidos?

A cooperação entre Angola e os Estados Unidos tem sido muito positiva e está em constante evolução. Nos últimos anos, testemunhámos um aumento nos investimentos e parcerias, principalmente nos sectores de Energia e Infra-estruturas. Há uma vontade clara de ambas as partes em fortalecer ainda mais estes laços, tanto a nível econômico como político.

Que áreas precisam de ser reforçadas?

As áreas de Educação e Saúde precisam de ser reforçadas. A Educação é um pilar fundamental para o desenvolvimento de Angola, e o apoio dos EUA neste sector seria crucial para a formação da nossa juventude. No sector da Saúde, o fortalecimento das infra-estruturas e a modernização do sistema de saúde são essenciais para o bem-estar da nossa população. Mas são processos muito dinâmicos. Hoje o interesse em reforçar algumas áreas pode ser um e amanhã outro diferente.

Angola-Estados Unidos cooperam há 30 anos. Pode falar desta relação entre os dois países?

A relação entre Angola e os EUA, que já dura três décadas, tem sido caracterizada por respeito mútuo e cooperação contínua. Ao longo desses anos, ambos os países trabalharam juntos para promover o desenvolvimento económico, a estabilidade regional e o fortalecimento dos laços culturais e políticos. Essa parceria tem crescido, com os EUA a desempenharem um papel importante no desenvolvimento de sectores chave da economia angolana. Quero lembrar que empresas dos Estados Unidos operam no sector petrolífero muito antes da nossa Independência.

Angola é um dos três principais parceiros dos Estados Unidos em África. Na sua opinião, qual é o peso de Angola na política externa americana?

Angola ocupa uma posição estratégica na política externa americana, sendo vista como um parceiro confiável no contexto africano. A sua localização, recursos naturais e influência regional fazem de Angola um actor fundamental para os interesses dos EUA, especialmente em termos de segurança energética e estabilidade regional.

Quais são os sectores de interesse comum?

Os principais sectores de interesse comum são a Energia, especialmente o Petróleo e o Gás, as Infra-estruturas, a Agricultura e a Tecnologia. Defesa, Telecomunicações com a expansão do sinal da rádio. Além disso, há também uma crescente cooperação nas áreas de educação, Saúde e Segurança Regional.

Qual é o volume de negócios entre os dois países?

O volume de negócios entre Angola e os EUA tem sido significativo, especialmente impulsionado pelas exportações de petróleo. Em 2023, o Comércio bilateral atingiu aproximadamente $3,5 biliões de dólares. Angola exporta maioritariamente petróleo para os EUA, enquanto importa principalmente maquinaria, equipamentos e produtos agrícolas.

Em 2023, as exportações de Angola para os EUA foram avaliadas em $2,6 biliões de dólares, com o petróleo bruto representando mais de 90% do total. Angola é um dos maiores fornecedores de petróleo dos EUA no continente africano.

As importações americanas para Angola, no mesmo ano, totalizaram aproximadamente $900 milhões de dólares, com destaque para maquinaria, aviões e peças de reposição, e produtos agrícolas como cereais.

Mas não se resume ao sector do Comércio. Certo?

Além do Comércio, o investimento directo dos EUA em Angola tem se concentrado no sector de Energia, com grandes empresas como Chevron e ExxonMobil a liderar projectos de exploração e produção de petróleo. Em 2023, o investimento directo dos EUA em Angola foi estimado em mais de $1,4 bilhões de dólares, principalmente no sector de Petróleo e Gás.

Nos últimos anos, Angola tem procurado diversificar as suas exportações para além do petróleo, e os EUA têm se mostrado interessados em apoiar esse esforço. Áreas como Agricultura, Mineração e Energias Renováveis têm grande potencial para expandir o volume de negócios entre os dois países.

Considerando o histórico relacionamento entre Angola e os Estados Unidos, quais são as suas principais prioridades como embaixador neste momento de transição presidencial americana?

A nossa prioridade é fortalecer os laços bilaterais, com foco em áreas estratégicas como investimento, comércio, segurança regional e cooperação cultural. Pretendemos consolidar os avanços feitos durante a actual administração americana, especialmente no âmbito da Parceria para Infra-estruturas Globais e Investimentos (PGII) e da 17ª Cimeira de Negócios EUA-África. Além disso, estamos empenhados em reforçar o diálogo político, assegurando que Angola continue a ser vista como um parceiro confiável e relevante nos esforços de estabilidade e desenvolvimento em África.

Na sua opinião, com a eleição do novo Presidente dos EUA poderá influenciar a política externa americana para com a África, especialmente Angola?

A política externa americana em relação à África tem evoluído para um enfoque mais estratégico, considerando o continente como essencial para a segurança global, o comércio e a sustentabilidade. No caso de Angola, esperamos que a nova Administração reconheça a importância do nosso país como um hub estratégico para a Região da África Austral, especialmente devido ao potencial do Corredor do Lobito e ao papel que desempenhamos na segurança energética e estabilidade regional. A continuidade dessa visão permitirá ampliar nossas parcerias em áreas como transição energética, Saúde Pública e Infraestrutura.

Qual o papel do corpo diplomático angolano nos Estados Unidos para promover os interesses de Angola em questões como segurança regional, investimentos e parcerias culturais?

O corpo diplomático angolano tem um papel fundamental como ponte entre os dois países. No sector de segurança regional, trabalhamos para fortalecer parcerias estratégicas que promovam estabilidade e combate a ameaças transnacionais. No campo dos investimentos, o nosso foco é atrair capital americano para sectores prioritários da economia angolana, como Energia, Agricultura e Tecnologia. Além disso, estamos empenhados em divulgar a rica herança cultural angolana e em fomentar trocas culturais que aproximem ainda mais os nossos povos.

Existem expectativas específicas do Governo angolano em relação ao fortalecimento de laços bilaterais com a nova Administração americana?

Sim, o Governo angolano espera que a nova Administração continue a promover um relacionamento baseado no respeito mútuo e no interesse comum. Como já referi, estamos particularmente interessados em fortalecer a cooperação nas áreas de infra-estrutura e energia renovável, além de fomentar investimentos em sectores como Agricultura, educação e Saúde. Esperamos, também, que o apoio americano à democratização e boa governação em Angola se mantenha, promovendo uma parceria que beneficie ambos os países.

Que impactos a política económica do novo Presidente dos Estados Unidos poderá ter em áreas como Comércio, investimento e cooperação económica com Angola?

A política económica americana poderá ter impactos significativos, dependendo das prioridades estabelecidas pela nova Administração. Esperamos que haja uma ênfase contínua no fortalecimento do Comércio Bilateral, com maior acesso de produtos angolanos no mercado americano, especialmente ao sector agrícola. No campo dos investimentos, acreditamos que a nova Administração dará continuidade às iniciativas da PGII, aumentando os investimentos em infra-estrutura sustentável e inovação tecnológica em Angola. A cooperação económica poderá ser ampliada com parcerias público-privadas que fomentem o crescimento inclusivo e o desenvolvimento sustentável.

Quais são as áreas prioritárias para a cooperação entre Angola e os EUA que o senhor acredita que merecem maior atenção nos próximos anos?

As áreas prioritárias incluem energia e infra-estrutura como a expansão da cooperação no sector de Energia, especialmente nas energias renováveis, e fortalecer projectos de infra-estrutura, como o Corredor do Lobito. Saúde e Educação, agricultura e segurança alimentar, Defesa e segurança regional e por último, mas não nesta ordem a Cultura e o Turismo que visa, essencialmente, promover a cultura angolana nos EUA e atrair turistas para Angola, incentivando intercâmbios culturais e económicos.

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