G20: CHEFE DE ESTADO DEFENDE AGRICULTURA SUSTENTÁVEL PARA GARANTIR FOME ZERO
O Presidente da República, João Lourenço, defendeu, segunda-feira, na Cimeira do G20, no Rio de Janeiro, necessidade urgente dos países criarem condições que favore- çam o desenvolvimento de uma agricultura sustentável a nível planetário, para dessa forma garantir a segurança alimentar e alcançar a meta de fome zero.
Ao discursar na sessão de abertura da Cimeira do G20, que abordou o lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, o Chefe de Estado afirmou que a fome é um flagelo que afecta, fundamentalmente, os países em vias de desenvolvimento, sublinhando não ser, ainda assim, um mal exclusivo destas geografias. “Observamos este fenómeno, também, em países desenvol- vidos, industrializados e com um grande Produto Interno Bruto”, sustentou o Presidente da República.
“O combate à fome e à pobreza constitui, sem sombra de dúvidas, um dos maiores problemas que a Humanidade enfrenta e que requer de todos nós, de todos os governantes, empresários, organizações humanitárias, dos líderes associativos, organizações religiosas e de outras instituições afins uma abordagem corajosa para identificarmos, sem tabus, as soluções”, acrescentou João Lourenço.
Para o estadista angolano, torna-se imperioso atacar as principais causas deste problema e as soluções pragmáticas e duradouras, “para se evitar o recurso ao assistencialismo que, de modo algum, resolve a problemática na raiz”, tendo apontado para a necessidade de todos os países olharem para a situação “sob a mesma óptica e sensibilidade”.
A iniciativa oportuna da criação, pelo Brasil, da Aliança na Luta contra a Fome e a Pobreza, da qual Angola é membro fundador, prosseguiu o Chefe de Estado, abre caminho para o surgimento de um instrumento valioso, que vai ajudar a inverter os retrocessos na consecução dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, relacionados com à erradicação da pobreza e da fome.
João Lourenço realçou, ainda, a necessidade da mobilização de esforços e recursos, para apoiar os países na implementação de políticas públicas eficazes, que assentem, essencialmente, na realização de acções estruturais e transversais, com vista à redução das desigualdades.
A experiência do Brasil, de acordo com o Presidente da República, “é bastante inspiradora”, sobretudo “pelos resultados práticos alcançados” e por demonstrar que o investimento na agricultura é a opção certa, que ajuda a construir as bases para a promoção dos diferentes factores de desenvolvimento e de melhoria das condições sociais de vida das populações.
“Em Angola, apostamos na agricultura, no quadro da diversificação da economia nacional, para reforçar a segurança alimentar, reduzindo a grave dependência que enfrentávamos em matéria de importação de bens alimentares”, esclareceu.
A realidade angolana, referiu João Lourenço, tem requerido das autoridades um esforço persistente no sentido de o alterar, com apoio à agricultura familiar e promovendo o desenvolvimento de uma agricultura moderna, que sirva de base ao avanço da indústria nacional.
“Angola dispõe de um enorme potencial, com vastas extensões de terras férteis, água em abundância e condições excelentes de exportação dos seus excedentes de produção agrícola, o que torna o nosso país um destino atractivo e interessante para o investimento estrangeiro na produção alimentar”, sublinhou.
A combinação do esforço nacional com o investimento privado estrangeiro, disse, tem permitido olhar para o futuro com optimismo e crença de que se vai concretizar o objectivo da erradicação da pobreza estabelecido na Agenda 2030 das Nações Unidas, sobre os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e da Agenda 2063 da União Africana.
A par de outros desafios ligados à agricultura, sustentou o Chefe de Estado, Angola encara o das mudanças climáticas, “que agravam em muitas circunstâncias a pobreza de comunidades inteiras”, por afectarem, negativamente, as condições para a realização da actividade agrícola, provocadas por secas severas, inundações e outros fenómenos naturais, que agudizam as condições de vida das populações, que “já de si enfrentam situações de grande vulnerabilidade”.
O Presidente da República disse, também, que no caso de Angola o fenómeno das alterações climáticas se expressa por uma seca severa no Sul do país, para onde o Governo angolano gizou um programa para fazer face a estes problemas, “cuja primeira fase está a ser implementada com sucesso”, esclarecendo que o mesmo consiste na “transferência de água, a partir do rio Cunene, para as zonas mais afectadas”.
O referido programa, assegurou, permite que as populações, geralmente nómadas, que se dedicavam essencialmente à pastorícia, se fixassem nas zonas que passaram a ter pasto e água para os seus animais e produzirem bens agrícolas para o consumo.
“Estão, ainda, em avançado estado de construção, na província do Cunene, outros projectos similares, os do NDue, Calucuve e Cova do Leão, com previsão de conclusão em 2025”, referiu.
Ainda no quadro do amplo programa de combate aos efeitos da seca no Sul do país, João Lourenço destacou o projecto de construção, até 2027, de seis grandes albufeiras de retenção de milhões de metros cúbicos de água na província do Namibe, estando o Executivo no processo de mobilização de financiamento.
“Perante um quadro de enormes carências, provocadas por estes fenómenos naturais, o Governo tem agido, com muita prontidão, no sentido de mitigar as dificuldades que as populações enfrentam, por via do programa Kwenda, que tem na sua essência alguma semelhança com o programa ‘Bolsa Família’ do Brasil”, asseverou.
A atribuição, mensal, às populações carenciadas, de determinado valor pecuniário, do qual se servem para realizar pequenos investimentos em actividades lucrativas, garantindo algum retorno financeiro, visa, de acordo com o Presidente João Lourenço, conferir autonomia e dignidade às suas vidas.