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LUTO: MORREU PRIMEIRO COMANDANTE EM CHEFE DO EXÉRCITO POPULAR DE LIBERTAÇÃO DE ANGOLA (EPLA), MANUEL DOS SANTOS LIMA.

Morreu Manuel dos Santos Lima, Primeiro Comandante em Chefe do Exército Popular de Libertação de Angola (EPLA), base do Actual Exército Angolano, e um dos mais destacados intelectuais angolanos do período pós-independência.

Com raízes familiares em São Tomé, de onde o seu pai era oriundo, Manuel Guedes dos Santos Lima nasceu em Angola, na província do Bié, na cidade do Kuíto (ex-Silva Porto), no dia 28 de Janeiro de 1935. Morreu no Hospital do Barreiro, às 19.30 h do dia 17 de Dezembro de 2024, aos 89 anos.

Desde muito jovem que Manuel dos Santos Lima se destacou pela sua personalidade e inteligência. Aos doze anos, ruma até Lisboa, para concluir os estudos secundários no Liceu Camões, tendo posteriormente ingressado na Faculdade de Direito (1953) da Universidade de Lisboa. Foi colega de Francisco Sá Carneiro, Jorge Sampaio e Pinto Balsemão. Ainda em Lisboa, torna-se residente da Casa dos Estudantes do Império (CEI), sendo um dos mais importantes colaboradores da revista Mensagem.

Foi o representante de Angola no 1.º Congresso Internacional dos Escritores e Artistas Negros, em Paris (em 1956), e no Congresso Afro-Asiático de Escritores, no Cairo (1962). Em Paris, trabalhou com Léopold Sédar Senghor e Aimé Césaire na revista Présence Africaine.

Santos Lima foi o primeiro oficial negro do exército português, mas desertou para lutar pela independência de Angola. Desertou em Damasco, seguindo depois para Beirute, onde havia um núcleo nacionalista angolano, dirigido por Marcelino dos Santos. Coube-lhe a formação, bem como a tarefa de ser o primeiro comandante do Exército Popular de Libertação de Angola (EPLA), o braço armado guerrilheiro do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Entre 1961 e 1963 participou como comandante do EPLA na Guerra de Independência de Angola. Porém, resolve deixar o MPLA por divergências com a liderança de Agostinho Neto. Trocou depois as armas pelas letras, ou, como alguém já escreveu, «mudaria apenas de arma para prosseguir o combate pela causa africana (Maria Leonor Nunes, Jornal de Letras, n.º 814)».

Entre 1963 e 1968, após concluir aí a sua licenciatura, doutorou-se em literatura comparada, na Universidade de Lausanne, na Suíça, com uma tese sobre a obra de Castro Soromenho (1975), de quem era amigo pessoal.

Leccionou no Canadá até 1982, onde ensinou sobre literatura portuguesa, francesa e espanhola. Leccionou em Rennes, durante 20 anos, e em Nantes, Lisboa (Universidade Moderna) e Luanda, onde chegou a ser reitor da Universidade Lusíada de Angola. Personalidade com um grande espírito crítico, dotado de uma rara inteligência, e de um inabalável humanismo, tornou-se, logo após a independência nacional, um sério opositor ao regime instalado em Angola, denunciando os excessos e abusos do mesmo. Encabeçou um dos movimentos de oposição ao MPLA após o pluripartidarismo, fundando o Movimento de Unidade Democrática para a Reconstrução (MUDAR) – partido oposicionista do regime – sendo convidado para tal em 1991, tendo concorrido às eleições para a Presidência da república de Angola em 1992.

Após a sua jubilação, Manuel dos Santos Lima radicou-se em Portugal, escolhendo para sua residência uma pequena aldeia (Ladoeiro) do concelho de Idanha-a-Nova, no distrito de Castelo Branco, onde encontrou a calma e a tranquilidade necessárias para abraçar uma vida dedicada à música, à arte, à literatura, e à revisão dos seus escritos. Mais recentemente, como a sua idade e saúde demandassem maiores cuidados e vigilância médica, Manuel dos Santos Lima mudou-se, com a sua esposa, para o concelho de Azeitão, onde residia actualmente.

As suas principais obras publicadas são Kissange (1961), As Sementes da Liberdade (1965), As Lágrimas ao Vento (1975), Os Anões e os Mendigos (1984). Os seus primeiros livros retratam o período de guerra colonial, demonstrando a luta pela libertação de Angola, podendo afirmar-se que Manuel dos santos Lima foi um poeta, dramaturgo e romancista cuja escrita está enraizada na luta pela libertação de Angola do colonialismo Português.

À família enlutada, em especial à sua esposa e filhos, o Regiões apresenta as mais sentidas condolências.

Fonte: Pedro Rego – Advogado. Escreve artigos sobre diversas temáticas para o jornal O Regiões.

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