ANTÓNIO COSTA AGRADECE A “EXCELENTE RELAÇÃO” MANTIDA COM JOÃO LOURENÇO.
O Presidente João Lourenço recebeu, sexta-feira, em audiência, em Lisboa, o ex-Primeiro-Ministro português, António Costa, que foi agradecer, pessoalmente, o Chefe de Estado angolano pela “excelente relação” que foram mantendo ao longo dos oito anos que esteve à frente do Governo.
“Vim agradecer, pessoalmente, o que já tinha feito ao Presidente João Lourenço: a excelente relação que fomos mantendo ao longo destes oito anos enquanto fui Primeiro-Ministro. Desejar as maiores felicidades a Angola e as relações entre Portugal e Angola”, disse António Costa, no fim do encontro.
Apesar de Portugal estar há quase três semanas com um novo Governo, liderado por Luís Montenegro, do PSD, o ex-secretário-geral do Partido Socialista (PS) considera que as relações entre Angola e Portugal vão continuar com toda a normalidade.
“Vão seguir, seguramente, muito bem, (porque) a relação entre Portugal e Angola é independente de cada Governo. As relações de Estado a Estado são elementos centrais da política externa de Portugal, pelo que a relação com Angola será como se nada tivesse acontecido”, afirmou António Costa.
O que cada Governo tem procurado fazer, ao longo da História, referiu, é acrescentar aquilo que se fez anteriormente. “Só posso esperar – e espero que assim será – o reforço das relações, porque quem chega tem novas ideias e projectos”, disse.
Afastado recentemente da política, António Costa garantiu que não vai regressar a ela tão cedo. A prioridade, por agora, são os estudos.
“Neste momento, a minha ocupação é ser aluno da Universidade Católica, onde estou a frequentar um curso de pós-graduação dos Direitos dos Contratos, em Arbitragem, uma actividade mais compatível do que o exercício da advocacia”, disse.
O ex-Primeiro-Ministro português confirmou também que vai colaborar como comentador num novo canal de televisão que está para ser lançado nos próximos meses.
“Aproveito para descansar, fazer uma dieta para perder peso e rehabituar-me à vida de cidadão normal”, disse, sorridente.
Apesar disso, António Costa garantiu que “Angola e os angolanos podem sempre contar comigo”, pois, “é um país sobre o qual tenho uma enorme admiração e uma grande afectividade”.
O Presidente João Lourenço deslocou-se a Lisboa, capital portuguesa, onde participou, na quinta-feira, nas comemorações oficiais dos 50 anos da Revolução dos Cravos.
Momento simbólico
O ex-Primeiro-Ministro de Portugal considerou ter sido um “momento muito simbólico” o acto comemorativo dos 50 anos da Revolução dos Cravos, no qual estiveram presentes os Chefes de Estado dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), além do Presidente anfitrião e o de Timor-Leste.
“Ontem (quinta-feira) o momento foi muito simbólico. Pudemos ter sete Chefes de Estado a celebrar a liberdade que conquistámos em conjunto.
Como várias vezes disse, libertações gémeas”, sublinhou António Costa, para quem a luta de libertação nacional, designadamente de Angola, foi decisiva para o 25 de Abril ter sido possível e o 25 de Abril, por sua vez, veio acelerar a “necessária Independência de Angola, cujo 50.° aniversário conjuntamente celebraremos”.
António Costa referiu-se igualmente à intervenção do Chefe de Estado angolano nas celebrações oficiais do 25 de Abril. “Creio que, ontem (quinta-feira), o seu discurso foi muito claro sobre a importância e a experiência única de o nosso conjunto de países ter tido esse processo de libertação conjunta, em que a luta de uns ajudou a luta de outros e juntos vencemos. E é isso que permitiu o reabrir de uma nova história e de um novo relacionamento, a partir do 25 de Abril”, disse Costa.
Tal como admitiu o ministro de Estado português dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, o ex-Primeiro-Ministro considerou que a deslocação do Presidente João Lourenço a Lisboa foi uma forma de Portugal agradecer ao que Angola fez para que se dessem os acontecimentos do 25 de Abril.
“Sem a luta dos movimentos de libertação, provavelmente a ditadura teria durado mais. A luta dos movimentos de libertação foi um contributo decisivo para o 25 de Abril. Libertou a nós e, ao libertar-nos, acelerou o processo de libertação e o fim do colonialismo. Foram cinco séculos de colonialismo que se encerraram também no dia 25 de Abril”, sustentou.
Compensação às ex-colónias
António Costa foi instado pelos jornalistas a comentar as declarações do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, que defende uma compensação de Portugal às ex-colónias, pelos danos resultantes do colonialismo.
O ex-Primeiro-Ministro concordou com o posicionamento do Presidente português, afirmando que “há sempre novas formas de o fazer (a compensação)”.
Sem querer entrar em “fórmulas concretas”, António Costa lembrou que quando o seu Governo tomou a decisão de financiar, integralmente, a construção do Museu da Luta de Libertação Nacional de Angola, fê-lo, por um lado, por gratidão, ao reconhecer que “esta luta foi essencial para a nossa própria libertação, mas também porque sabemos que esta foi uma guerra que criou traumas em Portugal e nos milhares de portugueses que estiveram em Angola, assim como criou drama, tensão e feridas do lado angolano”.
“Muitos perderam vidas ou ficaram feridos e sofreram com a guerra. Portanto, esse sentido de reconciliação assenta muito no facto de as libertações terem sido gémeas. Mas, obviamente, não apaga o passado. E a forma que temos de fazer é encontrar sempre, no futuro, formas de ultrapassar as feridas que vieram do passado”, defendeu o político português, para quem se tem sabido fazer isso e se deve continuar a fazer.