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CABINDA EM LUTO MORREU O LIDER DOS BAKAMA DE TCHIZO

Os Bakamas são grupos culturais com seitas próprias, localizados na província de Cabinda. Existiam, segundo a história, quatro conhecidos grupos de Bakamas, que são os do Kizo, do Kinzazi, do Susu e do Ngoyo, sendo que alguns deles encontram-se extintos e, dentre eles, o grupo do Kizo é o mais conhecido e notável, situado no Morro do Kizo, na região sul da capital da província.

Caracterizam-se por total sigilo acerca dos que estão por trás das máscaras e por seus rituais sobrenaturais.

Aparecem, com freqüência, em festas históricas da cidade como folclore. São tidos como um dos símbolos históricos dos povos de Cabinda.

Os homens que fazem parte desses grupos aparecem sempre escondidos por trás de máscaras pintadas, com o corpo todo revestido por folhas de bananeiras secas. Carregam consigo uma vassoura feita com nervuras de folhas de palmeiras. O mais surpreendente é que nunca são conhecidos os nomes das pessoas por trás das máscaras.

Os Bakamas também são tidos como defensores das ordens e das leis, pelo que são chamados a resolver, entre outros casos, os de violação de seus territórios (Kizo, Kinzazi, Ngoyo e Susu), falta às leis de Lusunzi no que diz respeito a moralidade pública, como é o caso de uma jovem engravidar antes de pasar pelo “Tchikumbi”, também conhecido como “casa de tintas”.  Segundo a tradição baoio (kyoio) a instituição dos bakamas foi inspirada pelo Lusunzi.

OS FISCAIS BAKAMA


A fiscalização destas leis tradicionais era feita segundo os rituais por intermédio dos “Bakama”, zeladores das “legislações” e dos princípios ético-morais da sociedade, afirmou o historiador.


“Os Bakama, uma organização secreta que tem como santuário o morro de Tchizo, são pessoas mascaradas vestidas com folhas de bananeira. Eles têm o poder de amaldiçoar. Poucas são as pessoas que ousam aproximar-se deles, sobretudo nos funerais de nobres, senhores ricos da terra, nas reuniões importantes destinadas a regular conflitos que afectam os valores morais e culturais” sublinhou João Cláudio do Nascimento Gime.


O estudioso da cultura tradicional disse ainda que na vigência de regime de sucessão hereditário patriarcal (pai para filho), tal como consta nos anais de aldeia de Tchizo, o primeiro Ntoma-Nsi (sacerdote tradicional) que a chefiou foi Macaia Mavaba.  Sucedeu-lhe Vaba Tchi-Macaia. O terceiro líder foi Tchi-Luemba Tchi-Tula, o quarto Ndjimbi N­kongo e o actual sacerdote tradicional é Vicente Manguebele.


Ndjimbi Nkongo, pai do actual Ntoma- Nsi, Vicente Manguebele, faleceu em 21 de Setembro de 1994 e foi sepultado no cemitério de Mbulo Buwanza. Foi um dos anciãos tradicionais mais venerados pelos habitantes de Cabinda, pelo simples facto de ter conseguido, durante o seu consulado de 53 anos, estabelecer e fazer cumprir leis tradicionais de carácter persuasivo e educativo, como por exemplo a preservação da castidade pelos jovens menores, com base na proibição de actos sexuais antes de atingirem a puberdade. 


O historiador explica que mesmo de depois de atingir a fase da puberdade, a jovem era obrigada a cumprir o ritual de Tchicumbi, caso contrário, quando se envolvesse em actos sexuais, o casal infractor tinha que dançar nu perante familiares e autoridades tradicionais.


A existência deste ritual, referiu, veio incutir na juventude mais responsabilidades no que diz respeito ao sexo, dando prioridade ao casamento para constituir família. Pela sua rígida forma de governação de um povo que o tinha como ídolo e ao mesmo tempo sentenciador, Ndjimbi Nkonko era idolatrado.


NDJIMBI NKONKO


  

Nos tempos passados, Cabinda era frequentemente assolada por fortes calamidades naturais que causava m grandes danos à sociedade. Foram interpretados pelos anciãos e autoridades tradicionais como a manifestação de espíritos malignos ou mesmo de poderes místicos de ancestrais já falecidos que se julgavam atraídos pela população face a uma eventual transgressão de algum mandamento.


Estas catástrofes, disse João Cláudio do Nascimento Gime, que normalmente provinham de chuvas prolongadas, que originavam desabamento de casas, destruição de culturas ou secas, foram situações que obrigaram Ntoma Nsi a impor o princípio da bênção tradicional, na tentativa de obter a protecção dos espíritos.


Com o andar do tempo, afirma João Cláudio do Nascimento Gime, Ndjimbi Nkonko, vendo que os efeitos de bênção tradicional estavam a surtir os resultados desejados, começou a sensibilizar e a educar a sociedade para a era necessidade introduzir no sistema tradicional a realização deste ritual.


Qualquer projecto de impacto social ou económico que fosse construído na região em benefício das comunidades, recebia a bênção tradicional no início da obra e no final.  A bênção, acrescentou, pode ter como objecto ou fundamento a aquisição individual ou colectiva de um bem precioso ou, nalguns casos, ter como móbil a invocação da prosperidade social, da fecundidade, abundância e a paz. 

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