A OPINIÃO DE BENJA SATULA: ESSE INCOMODO SENTIMENTO QUE ME PERSEGUE.
“A árvore ao ser podada observa com tristeza que o cabo do machado é de madeira”, também serve “o adversário ao entrar em campo observa com tristeza que o árbitro é sócio do clube adversário”, é desta forma que observo os acontecimentos e o desenrolar deste momento político que se vive.
Gosto de desporto, apoio equipas, nacional e estrangeiras, mas sou sempre apanhado por uma dor imensa e uma profunda tristeza quando sinto que a minha equipa foi beneficiada. Não me alegro com vitórias favorecidas, nem com injustiças contra a equipa adversária. Os jogos, para mim, perdem interesse quando a equipa adversária regista uma expulsão e a equipa que apoio joga com mais um, causa-me desconforto na alma, principalmente se a expulsão for injusta ou desproporcional, é claro que o mesmo sentimento se abate sobre mim quando a minha equipa é prejudicada, mas aí torço verdadeiramente para que consigamos dar a volta à adversidade e sentir o doce sabor de uma vitória em circunstâncias desfavoráveis. O vídeo-arbitro (VAR), no futebol, trouxe-me um grande alento, porque repõe a verdade e diminui os níveis de decisões erradas, injustas e/ou desproporcionais. Ainda não me refiz do título perdido por Lewis Hamilton na F1 na temporada passada, não é por nada, é por pura injustiça, continuaria assim se fosse qualquer outro a perder o título em circunstâncias idênticas.
Honestamente não sei onde fui buscar essa fragilidade de sentir profundamente a injustiça sofrida por outros, não consigo fingir, calar-me ou fazer de contas…lembro-me de ter chorado copiosamente quando no início da minha carreira vi um arguido inocente, não é presumível, era mesmo inocente, ter sido condenado por um magistrado, o arguido depositara toda a esperança em mim… eu não aguentei, é claro que não foi em tribunal, em casa e o sentimento não passou e não me deixa em paz…
Sucede que ao assistir todas as vicissitudes, sombras, incongruências em que o processo está envolto e as instituições competentes em silêncio! Ao ver e ouvir as intervenções de agentes privados a tentarem entrar numa luta política que não é a deles, ao assistir instituições republicanas a se desviarem da sua vocação e missão, ao assistir discursos auto-elogiosos de si mesmos, ao ver professores meus e ex-alunos numa lógica de aplaudir o desequilíbrio, fingirem concorrência saudável, ignorarem acções cívicas, ao ver “milagres de multiplicação” de qualquer coisa em tempo records, ao ver entusiamo supérfluo de gente de zonas cujo desenvolvimento não lembra ninguém, apanha-me o mesmo incómodo sentimento de fragilidade, de impotência, de perplexidade, de desilusão e desencanto e pergunto-me a mim mesmo: pode de facto alguém que se beneficia de situações não transparentes, promover a transparência?
Pode alguém que usando de técnicas corruptivas ou beneficiar-se dela, combater efectivamente a corrupção? Posso eu, docente que muito desincentivo a fraude nos meus estudantes e promovo a honestidade, o fair trial (julgamento equitativo), depois de ser apanhado em fraude numa qualquer investigação voltar à sala de aulas e pior continuar o mesmo discurso? Confesso que estaria a morrer de vergonha e encerraria a minha carreira de docente, mas como diz o meu irmão “cada sal é cada sal” …mas é nos momentos críticos como este que precisamos escolher de que lado da historia queremos estar!