DIÁSPORA ELEITORA DE PIMBA
A França destronou um pouco a Ucrânia do pico da actualidade internacional. As suas eleições legislativas abafaram o barulho das bombas russas, que enlutam sempre os ucranianos. Acarretaram lições condignas na mira de uma democracia clássica. A maioria do presidente Emanuel Macron venceu numa proporção que obriga à geringonça. Interessou-nos, em particular, o voto dos cidadãos no estrangeiro, que Angola se prepara a inaugurar.
A nossa estreia, no campo, afigura-se simbólica em carga política, tendo em conta o número de assentes em disputa. Em França, equivaleu a 11 dos 570 lugares. Por cá, a probabilidade andava nos 3 sobre os 270 deputados. Ora, o prévio rasteio registo recolheu 22.560 0 eleitores ou, seja, 0,16 % do total dos votantes, correspondente a 1414.390.09. Ilusório, nesta condição, a citada categoria perfazer uma única assente situada nos 100 mil votos. E o referido registo desvendou, também, esta assimetria geopolítica: Europa (11. 673 de eleitores ou 51, 7%), África (9.227 eleitores ou 40,9%), América reduzida ao Brasil (1.670 eleitores ou 7,4%). Este elemento demonstra quanto o arranque vale no condão da experimentação e não da amostra de uma diáspora eleitoral de pimba. Será profícua uma equação holística do desafio, depois do pleito de Agosto e a cidadania em desabrocho influir no exercício.
A mídia pública não variou no anti jornalismo, ilustrado em três manchetes da competição pré eleitoral. Nomeadamente: o embarque do opositor Abel Chivukuvuku no aeroporto de Cabinda para o regresso a Luanda; a oposição de Manuel da Vitória Pereira, co-fundador do Bloco Democrático, à alienação do seu partido à fortuita Frente Patriótica Unida; a saída do MPLA, do veterano militante Francisco Viana. Nas três situações, a TV de todos navegou entre o servilismo do poder e a autocensura. Repudiou a parcialidade, Fernando Pacheco, membro do Conselho da República para a Sociedade Civil, vincando, na sua crónica no ‘Novo Jornal’: “A insistência do MPLA no controlo desmesurado e inaceitável da comunicação social pública pode trazer-lhe certas vantagens eleitorais, mas alimenta cada vez mais a ideia de que as eleições de Agosto próximo não serão justas”
A contrariar esse clima malsão, a Igreja católica distinguiu-se com magistrais procissões campais do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo. No domingo passado e nas sedes diocesanas, exibiram-se em itinerário tradicional de principais artérias. A solenidade esbarrou somente com percalços em Cabinda e Malange, sob o impacto satânico do tóxico pré-eleitoral junto de alguns governantes. O que nos impele a finalizar esta crónica, pela passagem da mensagem pastoral da CEAST sobre as próximas eleições, que citamos: “A Igreja Católica não se identifica com nenhum sistema político nem endossa algum candidato (…) é contraproducente e perigoso o fanatismo exibido por qualquer militante de partido político (…) devemos vencer toda a espécie de mentalidade tóxica, responsável pelo surgimento do ambiente hostil à sã convivência e à paz social”.
VISÃO JORNALÍSTICA
(Uma co-produção de Siona Casimiro e Padre Augusto Epalanga. Apresentação de Wilson Capemba). Luanda, 23 de Junho de 2022.